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[gtCD] o monopólio da cultura audiovisual brasileira

cada vez mais desanimador este cenário da nova gestão do MinC.
Muito sério este retrocesso que está acontecendo.
Mais séria ainda é a apatia frente a tudo isso.

penso que quando novas energias consigam se sobrepor a todo
este refluxo, que se aprenda com o passado e que haja mais
seriedade nos trabalhos e menos traição às raizes das quais
se conseguiu subir a superfície. Mudança cultural é como orgasmo,
se você não se concentra ou no meio do caminho algo te brocha,
acaba tendo de começar tudo do zero. Você até pode chegar ao ponto
que estava anteriormente com mais rapidez, mas não tem como começar
exatamente do ponto de onde se parou.



---------- Forwarded message ----------
From: Alysson Muritiba


Relato esclarecedor de como se deram as coisas no edital de doc. do MINC:


Pequeno relato de Dácia, em 19/06/2012.

Aceitei participar desta comissão atendendo a um convite da Secretária
Ana Paula Santana. Estava fora de Brasília quando recebi o telefonema
e aceitei, como dever de ofício, sem saber quem eram os outros
integrantes. Posteriormente recebi as instruções: cada integrante
deveria ler todos os projetos (253) e indicar apenas 03 para serem
discutidos em uma reunião dos cinco membros da comissão.

Não foi solicitado parecer dos membros da comissão para cada um dos
projetos. Foi solicitado que pontuássemos com notas de 0 a 10 quatro
critérios de seleção conforme abaixo:

1) Excelência criativa

2) Coerência do roteiro ou argumento com a proposta de produção e de
direção da obra

3) Originalidade na abordagem e/ou ações de pesquisa do tema

4) Exeqüibilidade orçamentária da obra nos termos do edital.

Com estas notas os técnicos do MinC fizeram a tabulaçã e daí saiu a
lista de 12 filmes a serem debatidos na reunião da comissão de
seleção. Dos quais 05 foram contemplados e outros 03 ficaram na
suplência. O número de 12 filmes e não de 15 é porque algumas
indicações coincidiram.

A comissão de seleção foi formada por:

1) Denise Correia da Fontoura - do Rio de Janeiro - trabalha com
roteiro, consultoria de roteiro, produção. Foi casada com Antonio
Carlos Fontoura.

2) Dácia Ibiapina - DF, documentarista

3) Elisa Tomelli - SP, produtora

4) Selma Cristina Nunes - SP, Diretora de Negócios e conteúdo
audiovisual Teleimage/Casablanca

5) Wilson Feitosa - SP, Distribuidor, Diretor Geral da Unifilmes Distribuidora

A reunião estava prevista para acontecer aqui em Brasília, no MinC.
Foi transferida de última hora para um hotel no Rio. Ao chegar lá,
fiquei conhecendo pessoalmente os colegas de comissão.

Foi uma reunião difícil para mim. Estava duplamente em minoria: única
de fora do eixo RJ/SP e única diretora de documentários. O tom do
debate sobre os filmes foi pautado no chamado "negócio do cinema".
Quem vai querer ver um filme como esse? Quem vai querer exibir? Quem
vai querer distribuir? Quem vai querer comprar? Sobre a questão de
contemplar filmes de fora do eixo Rio/SP para descentralizar a
produção, fui voto vencido com base em dois argumanetos: 1) o edital
não prevê cotas regionais; 2) a maioria esmagadora dos projetos era do
Rio ou de São Paulo. Os colegas também insistiram muito na questão dos
nomes consagrados como garantia de que os filmes terão qualidade e
espaço de exibição. O mesmo aconteceu na comissão do edital de
roteiros, que se reuniu no dia anterior. A novidade neste sentido é
que alguns projetos gaúchos foram contemplados nos dois editais.
Principalmente o pessoal que foi ou é da Casa de Cinema, já
consagrados.

Aproveito para lembrar aqui que alguns diretores de fora do eixo
Rio/SP concorreram por produtoras do Rio ou de São Paulo. São
profissionais que hoje residem e trabalham naquelas cidades; ou ainda
diretores que não encontraram produtora em seus estados de origem
dispostas a entrar com seu projeto.

Não quero entrar aqui na discussão sobre os filmes contemplados ou
não. Não acho ético. Também não pretendo aqui me justificar. Cumpri o
edital, li e analisei com atenção todos os 253 projetos, fiz anotações
e, ao final, pude indicar apenas 03 projetos para debate. Uma decisão
cruel. Passei o mês de maio inteiro fazendo este trabalho. O edital
não previa qualquer tipo de cota, seja regional ou para estreante. E
este é o motivo pelo qual faço aqui este relato. Acho que esta questão
é de interesse coletivo. Não previa também cota regional para a
comissão de seleção. Sinto-me desobrigada com relação a questões
pessoais, afinal eu também já tive, por inúmeras vezes, projetos e
filmes preteridos em editais, bem como em comissões de seleção e júris
de festivais e mostras de cinema. Nem por isso fui pedir explicações
aos colegas ou pressioná-los. Nestes casos, infelizmente, ser
contemplado é a exceção. A regra é não ser contemplado. No caso do
edital longa doc a concorrência era de 50 projetos para 01
contemplado.

Porque participar e o que aprendi

Pude ler os projetos e me informar sobre quem está querendo fazer
documentários, que tipo de documentários, sobre quais temas, de que
forma e com quais objetivos. Para mim que faço documentários e estudo
o tema, é importante ter este panorama.
Pude constatar que hoje é difícil pensar sobre o que é e o que não é
documentário. A esmagadora maioria dos projetos caberia perfeitamente
na categoria documentário para televisão. Dos 253 projetos, 60 eram
filmes sobre personalidades. O que me remeteu ao projeto DocTV, que
poderia perfeitamente acolher parte dos projetos e estes poderiam ser
feitos com até 200 mil reais, em vez de pleitearem neste edital 625
mil reais, sendo 125 mil de contrapartida e 500 mil do edital. A idéia
de exigir contrapartida não funcionou a contento. A maioria colocou
como contrapartida cachês de pesquisa, roteiro, direção; além de uso
sem custo dos equipamentos da produtora. Coloquei esta questão do
DocTV para Ana Paula Santana, que passou rapidamente na reunião.
Estava a caminho da Rio+20. Ela disse que o DocTV não acabou. Está
sendo reformulado porque o "modelo de negócios" se revelou falho.
Revelou, para minha surpresa, que nem a TV Brasil, nem a TV Cultura,
estão interessadas no DocTV. Disse que ainda este ano o MinC pretende
lançar ainda editais de telefilmes e teledocumentários. Que também não
sei bem se é o que a gente gostaria. Contra o doctv, alguém
argumentou: o pessoal pegava a grana do doctv já pensando em fazer um
doc pra cinema e não um doctv, tanto é que muitos doctvs tiveram
também versão pra cinema. Depois fiquei pensando: se a Globo pode
pegar seus programas e transformar em filme pra cinema, porque os
documentaristas não podem fazer o mesmo? São as famosas
multiplataformas. Por que não?

Ainda sobre os 253 projetos, observei que tinha vários que foram
claramente formatados para outros editais e reformulados para este.
Editais como EtnoDoc, Histórias que ficam e, pasmem, para editais de
filmes de ficção, que foram transformados em projetos de documentário.
Nada contra: apenas um dado que chamou minha atenção. Observei também
que tinham muitos "ficcionistas" concorrendo neste edital. Observei
também que tinha muitos filmes que permitem à equipe técnica viajar
pelo Brasil e por outros países, tipo doc "on the Road". Havia também
muitos projetos de produtores e diretores de televisão. Havia também
projetos que já estão em produção.

Dever de casa para nós, em minha modesta opinião

1) Nós, de fora do eixo RJ/SP, precisamos apresentar mais e melhores
projetos. Assim, talvez, fique mais fácil fazer frente à quantidade
avassaladora de projetos do Rio e de São Paulo. Por outro lado: que
estímulo temos se quase nunca somos contemplados?

2) Se acreditamos em descentralização da produção audiovisual,
especialmente de cinema para exibição em salas, precisamos voltar a
pressionar o MinC por cotas regionais, não só nos editais, mas também
nas comissões de seleção.

3) Se acreditamos que uma parte dos recursos públicos deva ser
investida em formar mão de obra fora do eixo Rio/SP e em diretores
estreantes; temos que voltar a pressionar o MinC para estabelecer
cotas para estreantes também. Tudo que conquistamos nesse sentido em
gestões anteriores, foi por água abaixo nesta gestão. Observei que o
discurso dos colegas do Rio e de São Paulo é: não podemos tirar
oportunidade de realização de diretores consagrados para dar para
diretores estreantes. Não podemos tirar o emprego de profissionais
experientes para dar para gente que está aprendendo a ser
profissional. À pergunta: e então, como vamos renovar e democratizar o
cinema e o audiovisual brasileiro? Eles respondem: isso é problema do
MinC. Ele que vá ensinar esse pessoal a trabalhar. Ensinar a fazer
orçamento. Que vá fazer editais com pouca grana para estreantes e que
deixe os editais maiores para quem sabe fazer filme. É o mesmo
discurso que foi feito pela Associação Nacional de Roteiristas tempos
atrás. Com este discurso eles conseguiram retirar a cota de estreante
deste último edital de roteiros. O MinC aproveitou para acabar com a
política de cotas para estreantes e de cotas regionais em todos os
editais. Qual é nossa posição em relação a este tema?

Conclusão pessoal: fiquei desanimada para concorrer nos próximos
editais do MinC. Após analisar 253 projetos, só pude indicar para
debate 03; em um debate onde 03 colegas eram de SP, uma do Rio e eu de
Brasília. Onde 04 eram do chamado "negócio do cinema" e apenas eu
diretora de documentários. É uma escolha cruel. As chances de ser
contemplado em um edital desses é pequena. É tipo: muita burocracia
por nada. Entretanto, a política de editais ainda é, em minha opinião,
a mais democrática que temos. Só nos resta seguir tentando.

--
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