O polêmico papel da internet na literatura
O debate sobre a presença das mulheres no mercado editorial, evento
inaugural do espaço Mulher e Ponto nesta Bienal, acabou em polêmica
sobre o papel da internet na literatura. Luciana Villas-Boas,
diretora editorial da Record, e Vivian Wyler, gerente editorial da
Rocco, acabaram falando muito mais de como a internet influencia
diretamente a escrita, para o bem e para o mal. Na conversa, mediada
por Cora Rónai, colunista do GLOBO, Vivian se mostrou uma entusiasta
dos blogs e da concisão que o costume de escrever na web confere aos
novos escritores. Já Luciana acredita que o tempo que as pessoas
passam plugadas pode ser um obstáculo à leitura e não contribui para o
domínio do idioma que um escritor precisa ter.
A polêmica se fez quando uma pessoa da plateia perguntou quais eram as
dicas que as representantes das grandes editoras davam aos escritores
iniciantes. Além da leitura, ambas destacaram a importância da prática
da escrita e indicaram um blog como um bom meio para tal.
- Fazer um blog é muito bom para se acostumar a escrever, fazer suas
relações (com o público leitor) - defendeu Luciana. - O Brasil é muito
atrasado em termos de democracia cultural. Nesse aspecto, a gente tem
que reconhecer que a internet só veio para ajudar. Com ela, o
lançamento de um livro fica menos "garrafa no oceano".
Vivian concordou com a importância dos blogs e afirmou que sua
construção é um dos itens para elaborar a marca do autor. A diretora
editorial da Record discordou, citando alguns autores que constroem
suas marcas sem o uso do blog. E disparou:
- Eu não sento e fico pesquisando na internet para achar um blog. Acho
que isso é perda de tempo.
Já Vivian contou que pesquisou blogs até para contratar seus
funcionários mais jovens e, inclusive, adicionou mais um escritor à
equipe da Rocco depois de ver sua produção na internet. Ela também
defendeu o tipo de linguagem que se desenvolve na rede, em que os
diálogos escritos se dão de forma mais coloquial.
- A concisão é uma vitória imensa desse tipo de linguagem. Aprender a
cortar na própria carne é fundamental - argumentou Vivian.
Luciana concordou com a importância da concisão, mas não deu o braço a
torcer. Segundo ela, a forma de escrita na internet não ajuda em nada
no domínio do idioma. E salientou que o coloquialismo começou a ser
buscado pelos grandes autores, muito antes da internet.
- Os bons romances nunca vão vir de alguém que fica o dia inteiro no
facebook - sentenciou.
Depois de alguns momentos quentes de discussão, Vivian percebeu que o
debate estava longe de uma solução e decidiu concordar em discordar da
colega de carreira.
- Estamos tentando finalizar um assunto que ainda está começando -
afirmou a editora, que citou o poema "A flor e a náusea", de Carlos
Drummond de Andrade, para designar o tipo de linguagem que vem
surgindo na web - "É feia, mas é uma flor".
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