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Thiago Skárnio [http://skarnio.tv]
Florianópolis volta ao protagonismo em protestos contra Michel Temer
A se confiar nas estimativas de público divulgadas pelos organizadores dos protestos de quarta-feira contra o impeachment de Dilma Rousseff e a posse de Michel Temer, Florianópolis foi a capital que, proporcionalmente ao número de habitantes, registrou a maior concentração de manifestantes nas ruas. Segundo lideranças da passeata convocada pela internet tão logo o impedimento da ex-presidente foi confirmado no Senado, 7 mil pessoas participaram do ato – um para cada 68,25 habitantes. Segundo a PM, que, ao contrário das corporações de outros Estados, se manifestou a respeito, foram 600. Esse número refere-se ao protesto de quarta-feira, dia 31 de agosto. No ato do dia 2 de setembro, organizadores falaram em 12 mil pessoas.
Neste ranking elaborado a partir das informações dos organizadores – nem a Brigada Militar, no Rio Grande do Sul, nem as polícias de São Paulo e Rio de Janeiro divulgaram estimativas –, a segunda capital que mais registrou manifestantes na quarta-feira foi Porto Alegre (RS), em que um em cada 74,05 habitantes foi à rua protestar.
De acordo com Jacques Mick, professor do departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o protagonismo de Florianópolis nesse momento pode ter explicação no perfil do manifestante, em geral jovem universitário e sem ligações estreitas com partidos ou movimentos sociais tradicionais da esquerda brasileira. Para o professor, conta também o fato de Florianópolis ser uma cidade com alto índice de conectividade à internet móvel e um público universitário muito expressivo.
– Isso mostra a capacidade de organização desse pessoal que se mobiliza em rede. Perceba que Florianópolis tem se destacado pela formação de coletivos de oposição ao governo, como o Ocupa Minc, e eles, enquanto conjunto de coletivos, têm de certa forma liderado esses movimentos. Eles se mobilizam em rede e se organizam de maneira descentralizada, bem diferente do que sempre aconteceu nos anos 80 e 90 – pondera.
O histórico de mobilizações em Florianópolis por parte do público estudantil também reforça a hipótese de que esteja na juventude dos manifestantes o combustível para atos de protesto e resistência ao que, do olhar dos coletivos, precisa ser combatido nas ruas.
– Em outros momentos esse protagonismo já deu as caras, como na eclosão do Movimento Passe Livre, na primeira década dos anos 2000. Parece que a conjuntura atual está reavivando essa faceta da juventude e o espírito do "Amanhã vai ser maior", bordão da "Revolta da Catraca" que começou em Florianópolis e se espalhou para outras cidades do Brasil.
O economista e professor de Relações Internacionais da UFSC André Portela chama a atenção para o fato de que SC tem um eleitorado que, nas últimas eleições presidenciais, consagrou Aécio Neves (PSDB) nas urnas e, no geral, está mais à direita no espectro ideológico.
– Há aqui um grupo mais hegemônico, tradicional, que tem grande influência no eleitorado. Basta lembrar que as manifestações do ¿Fora, Dilma!¿ foram enormes, tanto em Florianópolis como em outras cidades. E aí em momentos como este aparece essa disparidade: um ¿Fora, Temer¿ de peso em um Estado que votou majoritariamente na oposição à Dilma. A conferir se dessa juventude não sairão lideranças renovadas da esquerda, algo de que Santa Catarina é carente.
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Os protestos pelo país
Na última quarta-feira, capitais tiveram protestos. Os números são dos organizadores, já que a PM fez estimativa apenas em Florianópolis, de 600 participantes. Veja a relação entre manifestantes e habitantes nestas cidades:
Florianópolis
Manifestantes: 7 mil
População: 477.798
Relação: 1 manifestante a cada 68,2 habitantes
Porto Alegre
Manifestantes: 20 mil
População: 1.481.019*
Relação: 1 manifestante a cada 74,05 habitantes
Rio de Janeiro
Manifestantes: 5 mil
População: 6.498.837*
Relação: 1 manifestante a cada 1,29 mil habitantes
São Paulo
Manifestantes: 10 mil
População: 12.038.175*
Relação: 1 manifestante a cada 1,2 mil habitantes
Fonte: http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2016/09/florianopolis-volta-ao-protagonismo-em-protestos-contra-michel-temer-7373574.html