nossa Roberto, esse teu email não convida tanto a um debate, parece muito mais uma entrevista de tantas perguntas que tem... e logicamente não tenho respostas para todas elas, mas vamos lá.
-- Por isso é que eu acho que um grande debate deve se estabelecer urgentemente em relação a esse e outros monopólios, contando com a participação de um amplo espectro de forças que possam (comunidades indígenas, afro-descendentes etc), servir de contra-peso efetivo a esses agentes da "de-sinformação ou informação seletiva que geram o "duplipensar" no verdadeiro Big Brother descrito por Orwell no seu famoso livro,1984.Voltando as rádios, não sou especialista no assunto, mas não vejo nos debates discussões sobre conteúdo.
Uma observação muito bem pontuada. A produção de conteúdo é de extrema importância também. Porém não teremos como veicular estes conteúdos se deixarmos que tecnologias proprietárias dominem nosso espectro.
Por acaso, já foi feito alguma pesquisa ou debate a respeito de que tipo de programação ou conteúdo étnico, quilombolas,movimentos sociais, diferentes etnias indígenas e outros segmentos gostariam que fosse gerado nas rádios alternativas? Existem projetos para elaboração de programas em regime de parceria entre as comunidades e especialistas no assunto?
faz muitos anos que a associação de vídeo e cinema da qual faço parte luta para que conteúdos da cultura nacional tenham espaço em programações. Existem inúmeras pesquisas na academia sobre este assunto e o MinC já lançou muitos editais voltados a conteúdos específicos. O índios, por exemplo, já se organizam faz tempo em relação a isso e até já ganharam festivais, vide a repercussão do Hipermulheres.
Qual é a percepção atual desses segmentos e comunidades, onde a geração de imagens da TV Globo chega como rolo compressor em relação, por exemplo, as novelas e outros conteúdos?
você sabia que meus alunos quase não vêem globo? não só os universitários, mas alunos de oficinas de ponto de cultura mesmo. O canal deles agora é o youtube, a web e suas infinitas possibilidades de busca. Sabe qual é a média atual de audiência do JN? O rolo compressor já faz algum tempo que perdeu força. E vem perdendo cada vez mais. Por isso vêem na tecnologia um jeito de retormar na força suas audiências. E isso inclui até a maculação da neutralidade da rede.
Como se conforma o seu imaginário em relação as produções globais e as pregações neo-pentecostais? O que eles propõem como alternativa? Eles participam, ou suas vozes são ouvidas nos vários debates e encontros promovidos por intelectuais, acadêmicos e movimentos militantes de mídia alternativa?
eu não entendi o que você está realmente querendo saber aqui. Pois se suas vozes não fossem ouvidas com certeza não teriam as concessões que tem hoje.
Como, na suas opinião, se estruturaria uma rede de suporte e manutenção desses equipamentos instalados nas comunidades? Há alguma espécie de treinamento dos locais? Ao que me consta, a poucos meses, o Iuri foi solicitado a prestar seus serviços de manutenção a uma comunidade quilombola e o sufoco parece que foi grande.
o governo poderia colocar essa pauta dentro de programa como o das cidades digitais, por exemplo. Quando existe vontade política de ambas as partes, governo e sociedade civil, a coisa acontece. Alguém aqui tem acompanhado este programa? Eu tenho. Joaçaba, cidade onde meus pais vivem, foi a única de Santa Catarina contemplada no primeiro edital. Claro que existem problemas, mas acho que está dando certo. A infraestrutura de fibra ótica já está em fase de finalização e há um treinamento obrigatório sendo oferecido gratuitamente para uma grande porcentagem de população local. Os treinamentos vão desde a utilização mais básica de um computador (como ligar, usar o mouse, abrir e salvar um documento), até formação de técnicos em infraestrutura de redes locais (para atender a demandas de manutenção). Uma proposta totalmente razoável seria fazer um edital desse tipo para utilização da rádio digital.
O que, de fato, impede que setores interessados na massificação dessas rádios se juntem e exerçam forte pressão para que se estabeleçam marcos regulatórios para o seu funcionamento?
boa pergunta. gostaria muito de saber por que este assunto não se configura como pauta prioritária.
Os ativistas buscam apoio internacional?
faz tempo. Tropixel é um exemplo.
Há diálogos e troca dei idéias com outros países que já tem consolidada uma base instalada de rádios alternativas em pleno funcionamento?
isso não faço idéia, quem trampa mais direto com rádios livres pode te responder melhor que eu.
Existe o debate de uma legislação internacional ou, mais modestamente, no âmbito do Mercosul,para regular e proteger essas rádios da ingerência de ditadores e governos totalitários?
a ingerência já existe, e rádios livres já são criminalizadas por governos que se dizem democráticos. É uma luta permanente, que necessita mais que resistência. Precisa de persistência. E é por isso que estou aqui me dando ao trabalho de tentar responder a todas estas perguntas que você formulou.
por fim, gostaria de dizer que até entendo que o tema das tecnologias livres possa afastar pessoas do debate por conta da dureza das palavras das pessoas que estão envolvidas faz muito tempo na questão, e por isso muitas vezes cansadas e sem paciência. Mas esse entendimento também me revela uma atitude bastante infantil. É como dizer que não se quer debater ou se posicionar sobre direitos humanos porque boa parte de quem pesquisa e fala sobre direitos humanos são "chatos, feios e bobos". Eu até posso ser chata, feia e boba, mas não acho que meu comportamento deva ser diretamente associado ao tema sobre o qual estamos falando, desmerecendo-o. Isso é um argumento extremamente falacioso. Sei que nossa criança interior deve ser ouvida e cuidada, mas não é agindo como crianças que se dá essa devida atenção e cuidado.
saludos,
.f4bs
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