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[gtCD] micropolitika


Adiei até o insuportável o ato da escrita. É o fim da poesia, a palavra salta para se afogar na impressão, para nascer novamente na leitura de outrem. Uma carta, para não cair na pretensão crítica, para que as palavras atravessem as imagens e sejam atravessadas por elas. Estivemos com Duchamp, Magritte, Oiticica, Clarck, Artaud, Anis, Blanchot, para encontrar algo sobre a composição plástica dos signos, sobre como afirmar mais e ser menos semelhante, sobre como escrever com as imagens, sobre as possíveis relações entre as palavras e as coisas, o corpo, o tempo e o espaço, o infinito. A carta é apenas o meio, o cano através do qual olharemos seus slides, nossa busca por outros suportes. Ela quer se voltar para ela mesma, metalinguística. Ela quer suas imagens dentro de si, para não perdê-las como referente externo. Ela as devora, antropofágica. E as trai, na medida em que se alimenta delas para esquecê-las, diluídas em um sistema comum, da ordem do imaginário. Suas imagens não precisam de palavras, de instrução. Apenas de corpos que se lancem no desconhecido. Vida e arte tecem a fragmentação de cada camada que se sobrepõe, imagens sobre corpos na cidade que cresce veloz em preto e branco, que rasga em concreto o seu peito. Escrevo em fluxo de alguma memória inventada, de quando seu coração aberto deflorava coloridas luzes em movimento, processos, amores. Não tenha medo da carta, ela não vai expor nada em nós que não seja da máscara anônima da humanidade inteira, ainda que eu escrevesse seu nome, não seríamos frutos dessa terra? Que brotam nos olhos de mel. Sua arte é sua vida, o desenho desses afetos. Às vezes erramos, ou vamos além do que nosso corpo deseja, ser alegre, pulsar. Nós sofremos para melhor amar. Não temos medo desse fluxo contínuo de cada imagem produzida, cada ritual, ainda que seja simples demais, ainda que queiramos estar a sós, também, a cumplicidade das noites abdicadas. Seguimos. Há algo que nunca se calará diante daquilo que vê, que imerge para ver mais, para ver menos, para confundir-se mesmo com aquilo que vê, com a paisagem da qual e na qual se vê, para ver de outro jeito, para não ver. Sim, é uma questão de jeito. E não calaremos. É o perigoso jogo que ainda não sabemos elaborar. Mas que está em cena todo o tempo, na infatigável criação, na vontade de viver, no repouso. Estaremos provocando as fronteiras, queremos que elas se diluam sem que seja novamente trágico ou rubro, sem cobrar os seus tributos de sangue. Haverá sempre fúria e leveza. Haverá sempre um devir mulher, animal ou criança. Em cada circunstância nascerá uma nova forma, uma forma desconhecida, guardiã de gerações anteriores, de novos produtos. Fatos e fetos e fitas e fotos. Feitos, efeitos, defeitos. Na generosidade desses encontros, nascerão frutos proibidos, que se lançarão para dentro e para fora, sua doação para o mundo. Para que ele lhes receba ou rejeite, sempre em relação ao mundo. Isso não faz sentido algum senão o sentido que se vai fazendo, a cada compasso ou a cada leitura. Não importa se são as linhas, as palavras, as ondas, as cores, os pixels, os gestos, de que linguagem é feito nosso deslumbramento, estaremos juntos nessa rede desconexa, no desejo de que cada um esteja livre de si, para o outro.

m.

primavera, 2013.

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