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[gtCD] Autor do livro "Cultura da Convergência", ele participará da 7ª edição do Descolagem

29/06/2011 - 03h37
Tecnologias aumentam nossa capacidade de comunicação, diz autor
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AMANDA DEMETRIO
DE SÃO PAULO

Não são as belezas naturais do Rio de Janeiro que trazem o professor e
pensador Henry Jenkins ao Brasil, e sim a forma como os brasileiros
estão contando suas histórias com a ajuda da tecnologia.

Autor do livro "Cultura da Convergência", ele participará da 7ª edição
do Descolagem, que ocorre no Rio, no próximo sábado. À Folha, ele
falou sobre o impacto das novas tecnologias. Leia a entrevista na
íntegra:

*
Como você vê o impacto das novas tecnologias na vida das pessoas?

Frequentemente, nós fazemos perguntas sobre como as tecnologias estão
afetando nossa vida, mas eu gosto de questionar o que nós estamos
fazendo com as tecnologias. Colocando isso em um nível mais simples,
estamos usando as novas mídias para aumentar nossa capacidade de
comunicação em todos os aspectos da nossa vida. Nós as usamos para
aumentar nosso alcance, para que possamos nos comunicar com pessoas do
outro lado do planeta.

Também podemos usá-las para acelerar a velocidade da nossa
comunicação, o que acaba acelerando o ritmo de certas rotinas diárias.
Estamos nos apropriando das novas tecnologias para sermos capazes de
compartilhar ideias com uma quantidade de pessoas muito maior.

Assim, um vídeo produzido por um adolescente no quarto dele tem o
potencial de atingir milhões por meio do YouTube, apesar de não
existirem garantias de que isso irá acontecer. Então, para aqueles que
estão mais imersos nas mídias digitais, todas as transações (entre as
famílias, com os amigos, com os parceiros de negócios) estão mudando,
como resultado do que estamos escolhendo fazer com essa extensão da
nossa capacidade de comunicação.

Divulgação

Henry Jenkings, autor de "Cultura da convergência"

Como o mundo visto por meio de várias mídias (no modelo transmídia)
mudou o jeito como consumimos conteúdo?

O jeito mais claro de pensar sobre isso é por meio de um exemplo que
tomou os jornais na semana passada: o anúncio da autora J. K. Rowling.
Ela lançou o Pottermore, uma espécie de rede social voltada para a
leitura interativa da série de livros "Harry Potter".

O anúncio de Rowling tem duas premissas básicas: a de que os leitores
são uma parte ativa da experiência de leitura criada por ela e a de
que os leitores estão sedentos por mais do que eles podem ter com os
livros e filmes que já existem. Ela está criando algo novo, que
aumenta os recursos disponíveis para os fãs dos livros -- ela prometeu
mais de 100 mil novas palavras sobre o mundo em que Potter vive.

Mas esse novo conteúdo estará disperso no tempo, integrado nas margens
dos livros originais e disponível apenas on-line. Isso representa uma
nova relação entre um autor e seus leitores, um relacionamento que
envolve contínuas interações e extensões da ficção criada pela autora
e que envolve algum nível de engajamento feito por meio da rede social
que ela construiu ao redor do livro.

Isso também dá a Rowling um controle maior sobre a publicação de novas
informações e sobre sua relação com os fãs. Essa é a promessa do mundo
transmídia. Mas isso fica mais complicado, já que existe uma
infraestrutura de fãs que cresceram ao redor desses livros e filmes e
que já faz, independentemente, um pouco do que ela está prometendo
fazer com o Pottermore. Então, ela vai ter que negociar com as
expectativas dos fãs e tentar compreender o jeito com que eles vão
lidar com a história. E essa é a luta de se estar entre a web 2.0 e a
cultura participativa.

O modelo transmídia, por meio do qual é possível contar histórias com
o uso de vários meios, já é visto no Brasil?

Isso é parte do que eu quero aprender mais durante minha viagem. Eu já
estive no Rio de Janeiro e em São Paulo e pude conhecer pessoas
supercriativas na Rede Globo, um centro importante para a produção de
novelas e uma empresa que está interessada no entendimento completo de
o que a transmídia pode trazer. Ainda tenho muito o que aprender sobre
o papel da mídia no seu país, mas tudo o que eu já aprendi sugere que
o Brasil está prestes a se tornar uma superpotência da mídia e da
cultura pop.

No Brasil, o acesso à internet ainda não é para todos. Acha que vamos
nos apropriar da rede de uma maneira diferente do que ocorreu nos
EUA?

Nós temos combinado mídias diferentes para contar histórias durante a
história da humanidade. No meu país, a internet tem sido uma peça-
chave no processo transmídia, mas não há razões para que isso tenha
que ser o centro da transmídia no Brasil. O modelo transmídia envolve
usar a mistura mais apropriada de plataformas de mídia para uma
história particular, para atingir uma audiência em particular. E isso
pode ser feito por meio de formas tradicionais como músicas,
performances ao vivo, comunicação oral e escrita, arte, transmissão de
TV e filmes.

Parte do que torna o Brasil um lugar interessante nesse processo é que
vocês têm práticas de cultura popular vibrantes --o samba e o
carnaval, por exemplo-- que ainda fazem parte da rotina das cidades.
Nos Estados Unidos, as práticas populares foram quase que extintas com
o crescimento das mídias de massa.

Eu vejo a cultura de participação tomando forma na intersecção entre
as culturas populares e a cultura digital, então, enquanto o Brasil se
torna mais on-line, é possível que a sua cultura digital tome um
formato diferente, por causa da sua forte tradição popular.

Como a organização das pessoas em rede pode ajudar os países em
desenvolvimento?

A comunicação feita em rede permite que as pessoas juntem recursos
para o benefício de todos. Nós sempre tivemos redes sociais. Em várias
comunidades mais pobres, as pessoas sobrevivem cuidando uns dos
outros, trocando favores, emprestando recursos, resolvendo problemas
de uma maneira coletiva. Essas práticas têm muito em comum com o que
começamos a ver com o surgimento das comunidades on-line.

Essas comunidades são, como o antropologista norte-americano George
Lipsitz sugere, ricas em rede, mas pobres em tecnologia. Então, com um
Brasil mais on-line, poderemos ter os mais pobres ensinando os mais
ricos sobre como viver em uma economia de rede.

Pelos seus livros, podemos ver que você é um grande estudioso do
comportamento dos fãs. Como você acha que a tecnologia permite que os
fãs sejam mais criativos?

Eu não diria necessariamente que a tecnologia permitiu que os fãs
fossem mais criativos. Eles sempre foram criativos e foi isso que me
levou a estudar o comportamento deles há mais de duas décadas. Os fãs
são uma comunidade popular e viva que usa os recursos das mídias de
massa para criar e compartilhar o que eles criaram com outros. Eles
usam qualquer ferramenta que estiver disponível.

Eles fizeram criações com máquinas de fazer cópias, eles editaram
vídeos usando dois videocassetes. Sim, existem novas formas de
produção cultural na era do YouTube e do Facebook, mas o que realmente
mudou é a natureza com a qual as culturas circulam.

Isso é o centro do meu próximo livro, que estou escrevendo com Joshua
Green e Sam Ford. No passado, as pessoas faziam vídeos caseiros que
eram domésticos no conteúdo e na exibição, e eles não saiam da esfera
privada. Hoje, os vídeos caseiros, na verdade, são filmes públicos --
eles se espalham on-line das maneiras mais diferentes. E a mídia
criada pelos fãs está coexistindo com a mídia oficial para moldar a
percepção do público de um universo ficcional específico. Isso está
dando aos fãs uma influência cultural muito maior do que eles tinham
antes.

Como podemos lidar com as questões dos direitos autorais quando
estamos falando de um mundo constantemente recriado pelos fãs?

Nós precisamos repensar os direitos autorais e o seu uso justo. Nossa
estrutura atual de leis foi desenhada para acomodar as necessidades de
uma cultura em que um número limitado de pessoas poderia produzir e
compartilhar informações. Agora, vivemos em um mundo onde mais e mais
pessoas são capazes de participar da cultura nesse nível, e, ao
democratizarmos a participação na criação de ideias, nós temos que
mudar a propriedade intelectual para um direito que possa ser de todos
os membros da sociedade.

Nós temos o direito de participar significativamente da nossa cultura
e isso inclui o direito de citar e responder a materiais produzidos
pela nossa cultura.

Isso não significa que as empresas ou os autores tenham que desistir
de controlar o que acontece com suas ideias, mas significa que eles
têm que perceber que o seu controle sobre esses materiais nunca é
absoluto.

Os autores sempre criaram a partir do trabalho de outros autores e o
que mudou é apenas que agora temos uma classe muito maior de pessoas
querendo ser autores da cultura.

*
RAIO-X HENRY JENKINS

PROFISSÃO É professor de comunicação, jornalismo e artes
cinematográficas na Universidade do Sul da Califórnia. Integra o
conselho da Alchemists Transmedia Storytelling Company
PUBLICAÇÕES Escreveu vários livros sobre mídia e cultura popular,
entre eles o "Cultura da Convergência", lançado no Brasil pela editora
Aleph
BLOG www.henryjenkins.org

PROJETO DESCOLAGEM

CONVIDADOS Além de Jenkins, estarão presentes Zach Lieberman, Daito
Manabe e Rafael Parente
QUANDO 2 de julho, às 15h (os portões serão abertos a partir das 14h)
ONDE Núcleo Avançado em Educação (rua Uruguai, 204, Tijuca, Rio de
Janeiro)
INSCRIÇÕES Os interessados devem responder a um questionário e
aguardar a confirmação da inscrição. Encontre em bit.ly/inscdesc

--
Essa mensagem foi postada no grupo: http://groups.google.com/group/gtculturadigital?hl=pt?hl=pt-BR

Esse grupo está ligado ao Movimento Cultura Digital:
http://culturadigital.br/movimento

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