[gtCD] Re: mascarados sem alma - o começo do fim da festa do Divino em Pirenópolis GO

Temos recebido vários emails de indignação. Agradecemos o apoio.

Recebemos apenas um email de apoio à medida do Juiz, reforçando o preconceito existente em torno das atitudes dos mascarados.

Começando lá do começo, pra quem ainda não conhece a história das Cavalhadas, elas foram "criadas" pela Igreja Católica para reforçar a ideia de que os mouros são "maus" e os cristãos "bons", quando da necessidade que os povos do norte de Portugal tinham de expulsar os mouros da Península Ibérica. Tiveram a brilhante ideia então de simular uma batalha entre mouros e cristãos, sempre com a derrota dos mouros, evidentemente.

Durante as Cruzadas, esse personagem dos mascarados é uma constante. Eles eram os mensageiros entre os povos e nações e lá entre eles estabeleceram um acordo de que os mascarados deveriam ser preservados em "campo de batalha" por serem figuras importantes de circulação de fatos e tudo que fosse necessário.

Em Pirenópolis, pelas conversas que temos feitos com antigos moradores e principalmente antigos mascarados, quando a festa acontecia no Largo da Matriz e portanto em local aberto, todos participavam pacificamente, os cavaleiros desenvolviam sua encenação e os mascarados sentiam-se parte atuante do evento como um todo. Então resolveram arrumar a festa do povo e levaram todos pra dentro de um campo de futebol e mais depois ainda, o governador deu um presente de "grego" pra cidade e fez o tal Cavalhódromo.

Antes de qualquer coisa, a festa é pra quem dela participa e não pra quem a assiste. Assistir é consequência dos curiosos e admiradores da cultura popular. Uma festa popular não pode e não deve se adaptar às necessidades do público. Pronto: deixou de ser festa e passou a ser espetáculo.

Acontece que festa popular não deve ser tratada assim. O mascarado é a pessoa comum de Pirenópolis. É qualquer um porque qualquer um pode vestir uma roupa engraçada, uma máscara na cara e se divertir. Há os que incomodam? Há, claro que há, com ou sem máscara, há os que abusam, os que bebem demais, os que maltratam os animais. Não precisa usar máscara pra isso. Aliás, cá entre nós, nós que somos povo sabemos bem quem mais maltrata o todo e nos maltrata descaradamente, não é mesmo?

Posto isto, se ainda assim o poder judiciário e alguns desavisados de plantão ainda acham que é necessário que algumas medidas sejam tomadas, que sejam tomadas individualmente. Que se preparem agentes culturais e que se espalhem pela cidade para poder auxiliar e orientar esses mascarados que se excedem em suas atitudes. Mas numerá-los? Descaracterizar um personagem que faz parte de uma festa que é patrimônio cultural reconhecido pelo IPHAN (como bem lembrou nossa amiga)? IPHAN, cadê você que não se manifesta?

Pra quem mora em Pirenópolis e principalmente pra quem convive com a turma que espera durante 365 dias pra brincar durante as Cavalhadas (é o carnaval pirenopolino!!!!), é um acinte uma intervenção desse tamanho! Me perdoem os que se acham "conscientes", mas festa popular, meus amigos, é comandada pelo povo. Sempre foi assim ou pelo menos deveria....


Daraína Pregnolatto

Diretora Geral /Guaimbê - Espaço e Movimento CriAtivo
Ponto e Pontinho de Cultura, Leitura, Estória, Valor, Mídia Livre e Cultura Digital Quintal da Aldeia /Pirenópolis GO
Pontão Ação Griô Guaimbê das Nascentes & Veredas
Tuxaua de brincadeiras, ritos e redes populares

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