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[gtCD] .Coletânea reúne textos de escritores sobre futuro do livro O GLOBO

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Coletânea reúne textos de escritores sobre futuro do livro

Em vez de vagar pelo deserto com a barba engruvinhada e um manto
fedorento, os profetas da era digital usam a camisa para dentro da
calça, manejam com destreza o Powerpoint e substituíram o batido
"apocalipse" (tão ontem) pela "mudança de paradigma". Como seus
antecessores, no entanto, eles continuam nos advertindo que "o fim"
está próximo. A diferença, é claro, é que agora o delírio é duvidar da
previsão.

Os editores de livros foram os últimos integrantes da indústria
cultural a terem que se deparar com "o fim", mas hoje poucos duvidam
que precisam repensar seus negócios em resposta às novas tecnologias
digitais. A transformação talvez não seja tão radical quanto a de
outros setores, como a indústria fonográfica (mesmo essa ressalva, no
entanto, já soou mais convincente), mas certamente será muito mais
profunda do que era plausível imaginar alguns anos atrás, quando os
leitores de e-books ainda pareciam condenados a permanecer para sempre
como engenhocas não muito práticas ou atraentes. Embora no Brasil
ainda vá devagar, em outros países a mudança de fato já é radical: no
mês passado, a Associação de Editores Americanos informou que os e-
books foram o formato mais vendido pela indústria editorial dos
Estados Unidos em fevereiro.

O surgimento de novas formas de publicação, distribuição e leitura de
livros não é no entanto um problema apenas industrial, ainda que o
debate sobre essas mudanças seja mais ou menos monopolizado por
empresários, advogados e toda forma genérica de guru midiático.
Partindo dessa constatação, um livro lançado recentemente nos Estados
Unidos tenta trazer para essa discussão um grupo que até agora tem
participado dela de maneira marginal: os escritores. "The Late
American Novel: Writers on the Future of Books" (Soft Skull Press, 192
páginas, US$ 14,95), organizado por C. Max Magee e Jeff Martin, reúne
26 textos sobre o assunto escritos por contistas e romancistas
americanos, a maioria deles jovens autores que gravitam em torno das
revistas literárias surgidas nos EUA nos últimos anos, como
"McSweeney's", "n+1", "The Believer" e "The Millions". Escritores para
quem a criação e a discussão de literatura estiveram desde sempre, ou
quase, vinculadas ao computador e à internet, mas que ainda assim, em
muitos casos, exploram a própria perplexidade diante da transição do
papel para a tela.

— Estávamos interessados em saber o que os desafios e oportunidades
criados pelas novas tecnologias significam para quem está de fato
tentando viver do que escreve — resume C. Max Magee, criador e editor
do site "The Millions", em entrevista por email ao GLOBO (leia
abaixo).

Com mais senso de ironia e muito menos jargão 2.0 do que o usual, os
autores reunidos no livro usam a questão como ponto de partida para
todo tipo de texto, do ensaio à ficção, da piada ao cenário de fim do
mundo, da recordação saudosa de partidas de Mortal Kombat a uma
pequena tese sobre as diferentes etapas da civilização humana. Muitos
textos, como seria de se esperar, tratam de impasses ligados à criação
literária. Jonathan Lethem (o veterano da coletânea) fala das redes
sociais como uma grande forma coletiva de ficção, enquanto Benjamin
Kunkel (autor de "Indecisão", publicado aqui pela Rocco) se pergunta
se é possível narrar as experiências que temos diante do computador.

Leia abaixo a entrevista com C. Max Magee. Clique aqui para ler um dos
artigos da coletânea, de Deb Olin Unferth, e aqui para ler um texto de
James Warner, publicado originalmente na revista "McSweeney's", cuja
série de previsões é em si um resumo irônico das incontáveis
pontificações, dúvidas e enrolações que compõem o debate atual sobre o
futuro do livro.

Debates sobre o futuro do livro tendem a reunir editores, advogados,
gurus da mídia, mas nem sempre escritores. Por que vocês resolveram
levar essa discussão aos autores, e em que a abordagem deles difere
das usuais?

C. MAX MAGEE: Tínhamos a impressão de que as pessoas no lado
empresarial do mundo dos livros estavam recebendo atenção demais nessa
discussão. Estávamos interessados em saber o que os desafios e
oportunidades criados pelas novas tecnologias significam para quem
está de fato tentando viver do que escreve. O escritores se perguntam
sobre a transição da leitura para uma tela ou isso não faz diferença
nenhuma para eles? Nosso livro acabou sendo mais eclético e emotivo do
que a maioria das coisas que você lê sobre o assunto. Muitos desses
autores têm uma conexão pessoal profunda com livros e a escrita, e
acho que isso aparece nos textos.

O termo "copyright" é mencionado em apenas um ensaio do livro. Isso é
surpreendente, já que em meios como o musical as discussões sobre a
tecnologia digital costumam centrar-se na questão dos direitos
autorais. Os escritores estão menos preocupados com isso do que os
músicos?

MAGEE: É difícil ganhar a vida como autor de ficção, e portanto,
embora exista o perigo da pirataria, muitos escritores não têm tanto a
perder e estão escrevendo simplesmente por paixão. Quando você olha
para os escritores nas listas de best-sellers, as preocupações com os
direitos autorais aumentam. Para ficcionistas, em geral, uma
preocupação maior do que "as pessoas vão roubar meu livro?" é "as
pessoas ainda vão querer ler ficção?"

O título do livro, ao explorar o duplo sentido de "novel" — ao mesmo
tempo "romance" e "novo" —, sugere uma ligação entre tecnologias de
leitura e formas literárias. O que você acha da ideia de que novos
dispositivos de leitura vão favorecer o surgimento de novas formas de
escrita?

MAGEE: A tecnologia sem dúvida abre novas portas e caminhos, muitos
que ainda sequer imaginamos. Mas não acho que estejamos perto de uma
grande mudança na forma narrativa dominante nos livros. Talvez
editores comecem a oferecer extras digitais ou algo do tipo, mas
quanto mais um "livro" se aproxima da interatividade do mundo
conectado, mais ele deixa de ser um "livro" para tornar-se um
videogame ou alguma outra forma de entretenimento. As fronteiras do
"livro" são definidas em relação a outros meios. Um livro em formato
visual é um filme. Um livro onde o leitor controla a ação é um jogo.
Leve o livro muito para longe de seu formato atual e ele se tornará
alguma outra coisa. De muitas maneiras, a definição de livro é bem
específica. Você pode considerá-lo "um texto narrado por um escritor
para um leitor". No fim das contas, o que pode acabar sendo mais
ameaçador para os livros é adicionarmos tanta multimídia e tantos
bônus interativos que nos daremos conta que aquilo que estamos "lendo"
não pode mais ser considerado um livro. Ao mesmo tempo, a tecnologia e
a interatividade oferecem grandes perspectivas para a interação entre
leitores — e até mesmo entre leitores e autores — em torno de um
livro.

Editores costumam dizer que não podem repetir os erros da indústria
musical em relação à tecnologia digital. A indústria editorial está de
fato se saindo melhor?

MAGEE: Embora sem dúvida estejam diante de grandes desafios, os
editores tiveram sorte de ter uma década a mais para refletir sobre o
compartilhamento de arquivos e a pirataria, e eu acho pouco provável
que sejam atingidos de modo tão duro quanto a indústria musical foi
atingida. De muitas maneiras, eles estão protegidos porque os e-books
costumam ser lidos em leitores como o Kindle e smartphones, que
funcionam dentro de sistemas fechados, com barreiras muito maiores do
que as existentes nos primórdios do mp3.

Um tema controverso em relação aos e-books é o poder de editores e
distribuidores para editar ou mesmo apagar livros já comprados por um
consumidor. O quão sério é o perigo da censura em relação aos e-books,
e que papel as bibliotecas podem ter nessa discussão?

MAGEE: A digitalização dos livros cria grandes questões de censura. Já
vimos que toda nossa vida online é vulnerável ao monitoramento de
empresas interessadas em nos vender seus produtos e, potencialmente,
também de governos que desejem manter um olho em nós. Os livros no
meio digital estão suscetíveis a essas mesmas forças. Não é difícil
perceber os possíveis conflitos criados pela possibilidade de que
nossos hábitos de leitura estejam sujeitos à vigilância dessas
entidades. Em geral, pelo menos nos EUA, as bibliotecas têm feito um
bom trabalho em adotar novas tecnologias e proteger seus usuários,
então acho que elas podem acabar por ser um contraponto às
consequências potencialmente negativas das novas tecnologias sobre os
livros.

Qual será o lugar dos livros em meio às mudanças sociais das próximas
décadas?

MAGEE: Existe um vínculo íntimo entre o futuro dos livros e o futuro
da civilização. Não acho que a mudança tecnológica vá interferir no
desejo humano de se comunicar por meio da palavra escrita, e suspeito
que, de uma forma ou de outra, os livros serão parte das futuras
mudanças, não como o meio central que foram séculos atrás, mas ainda
parte da cacofonia digital global.

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comentários (0) ....Enviado por O Globo - 21.5.2011| 10h00m.
O futuro dos livros, por James Warner

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